Nassó

Nossa Parashá nos conta sobre uma mulher que o marido pediu para ela não se trancar com um homem específico e ela se trancou, despertando a suspeita do marido de que “algo” aconteceu entre eles.

Pela lei judaica, quando uma mulher se casa é escrita uma ketubá que lhe dá direito a uma indenização monetária pré determinada caso ela se torne viúva ou que seja divorciada pelo marido sem um motivo que justifique isso.

Nesse caso, se ela optasse pelo divórcio não receberia o valor da Ketubá, sendo que o motivo do divórcio é considerado justo.

Mas será que a lei judaica incentivaria um divórcio? Claro que não! E até mesmo em um caso assim!

A intervenção Divina

A Torá proíbe apagar o nome de D’us e para uma regra da Torá ter uma exceção, a própria Torá tem que trazer essa exceção.Em um único caso encontramos uma permissão, e não só uma permissão mas uma Mitzvá de apagar o nome de D’us.

E quando isso acontece? Por incrível que pareça isso acontece exatamente nesse caso, no caso do “Shalom Bait” , da “paz conjugal” da “Sotá”.

Se a “Sotá” diz que não traiu o marido e quer continuar casada, ela é acompanhada até o grande tribunal rabínico de Yerushaláim, o Sanhedrin, e lá será feita uma proposta para que por meio disso, se de verdade ela não traiu o marido, isso seja comprovado milagrosamente no Beit Hamikdash ( o Templo Sagrado de Jerusalém)

E depois disso não só que  a vida dela iria voltar ao normal, mas também iria melhorar bastante, indenizando ela pelo susto que passou.

Mas os Sábios do Sanedrin interrogavam ela para ter certeza de que ela não traiu, porque de lá ela iria ao Beit Hamikdash

No Beit Hamikdash era escrita a parte da nossa Parashá que fala sobre a maldição da Sotá, com os nomes de D’us que estão escritos nela.

Esse pergaminho era apagado  dentro de um recipiente de água e ela iria beber essa água.

Se nada acontecesse para ela nessa hora, isso era a prova Divina de que ela não traiu o marido e não precisaria se divorciar.

E não só isso, mas a partir de agora, se antes ela não tinha filhos, agora ela teria. Todas as bençãos iriam recair sobre ela e a partir desse momento a vida dela com o marido seria um verdadeiro paraíso nesse mundo.Diz o Ramban, Rabi Moshe bem Nahman, que nenhuma lei da Torá funciona na base de 100% milagre a não ser essa.

A lei da sotá nos nossos dias

Hoje em dia é proibido para um homem dizer à sua mulher explicitamente “não se tranque com tal homem. Sendo que não temos o Beit Hamikdash, entraríamos por causa disso em um sério problema em relação à lei judaica que poderia acabar em um divórcio.Nossos Sábios fizeram um decreto proibindo um homem ou uma mulher se trancarem sozinhos com alguém do sexo oposto que não é o seu marido ou um dos parentes próximos pela Torá, e isso é chamado de “issur ihud”.

Daqui vemos a importância do Shalom Bait, da paz em casa.

Às vezes brigamos por causa de coisas muito sérias e importantes. Nessa hora devemos nos lembrar do sofrimento que estamos causando lá encima, a ponto de o próprio D’us colocar o seu nome à disposição para ser apagado para que o nosso casamento não se apague.

Por mais importante que seja o motivo, uma briga em casa é pior do que qualquer motivo para brigar.

Nessa hora devemos abrir mão dos nossos interesses e colocar o interesse Divino em primeiro lugar, que é Shalom Bait, a paz no lar.

Somos todos crianças de Hashem. Quando nossas crianças brigam entramos no desespero, mesmo sendo simples mortais com todos os limites emocionais.

Imaginem o desespero lá encima, onde o amor por nós não tem limites. Como podemos brigar sabendo que D’us é a parte principal da nossa família, e consequentemente quem sofre mais no meio dessa briga?

Então, a partir de agora vamos mudar o nosso comportamento dentro de casa e desapegar do prazer de ganhar uma briga.

Está escrito que todo aquele que fica nervoso é como se estivesse fazendo idolatria, porque  se nessa hora se ele se lembrasse que D’us existe estaria alegre e não irado.

É importante lembrarmos que os sofrimentos que passamos nesse mundo muitas vezes estão ligados à correções de reencarnações anteriores, e isso se relaciona principalmente aos sofrimentos que sofremos dentro de casa.

Então vamos agradecer à Hashem por estar refinando a nossa Alma e não partir para a guerra contra quem está tão próximo de nós.

Sempre devemos explicar tudo em casa com muita delicadeza, sem fazer pressão aumentando o volume da nossa voz ou fazendo ameaças .

Por mais que nosso cônjuge nos coloque em um beco sem saída falando coisas duras em alto volume, não devemos nos defender da mesma forma.

Mas ao contrário, “as palavras dos sábios são ouvidas com tranquilidade”. Na hora que perdemos a tranquilidade deixamos de ser sábios, e nossas palavras já não são mais ouvidas.

Devemos ser sempre o bom exemplo em casa para que o nosso cônjuge nos veja como um bom exemplo, como um referencial de como devemos nos comportar.

E assim com o passar dos anos nosso cônjuge acaba se acalmando e a vida se torna um paraíso.

Diz o Ari Zal que nosso pratriarca Yaakov era a reencarnação do nível Neshamá do Adam Harishon, o primeiro homem.

Aquele nível que por ser o mais elevado foi afetado pelo maior de todos os pecados que foram as relações ilícitas que Adam Harishon teve com duas demônias durante 130 anos.

E por isso Yaakov sofreu por causa dos seus familiares, para retificar os prazeres proibidos do Adam Harishon.

Mas quando essa retificação terminou, a vida dele mudou, e ele viveu no paraíso mesmo estando nesse mundo.

O mesmo acontece com cada um de nós. Sempre devemos nos comportar com nosso cônjuge da maneira mais tranquila possível.

E se em troca disso recebemos gritos e palavras duras sabemos que estamos nos purificando. Mas quando nossa retificação terminar, automaticamente nossa vida vai melhorar.

Aprendemos com a nossa Parashá que se até o próprio D’us prefere que seu nome seja apagado para que não haja uma briga em casa, quanto mais nós.

Devemos apagar nossa prepotência, nosso ego, e assim a revelação Divina vai pairar sobre a nossa família.

A grandeza do Shalom Bait 

Por pior que tenha sido a atitude da Sota, não estamos sozinhos nesse mundo.Hashem é a essência do bem e ama a cada um de nós infinitamente mais do que o amor que um pai teria pela sua filha única que nasceu quando ele tinha 100 anos de idade.

E por isso, para tirar a suspeita do marido, Hashem pede para ele levar a esposa ao Beit Hamikdash, e lá o Cohen  escreve uma parte dessa nossa Parashá, a parte que fala sobre essa proposta Divina para fazer o Shalom Bait.

O Sefer Torá é a coisa mais sagrada no judaísmo por estarem escritos nele os nomes de D’us, e para fazer o Shalom Bait, para que marido e mulher vivam em harmonia familiar, Hashem (D’us) exige que o seu próprio nome seja apagado para que a família não seja apagada.

Daqui vemos a estrondosa importância do Shalom Bait para Hashem, e seria uma “cara de pau” de nossa parte negligenciarmos uma coisa tão sagrada na visão Divina, ou seja, negligenciarmos o nosso próprio Shalom Bait

Se até nos preocupamos com as revisões periódicas do carro para que o motor não venha a fundir, quanto mais devemos nos preocupar com a manutenção do nosso Shalom Bait que para Hashem é infinitas vezes mais importante

Somos um casal de três no casamento. O marido, a mulher, e o principal : D’us!

 

 

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