Tu b´Shvat

ט”ו בשבט

Tu Bishvat 

 

Cada letra em hebraico também representa um número.

O número 15 é representado pela letra hebraica ”ט” (têt) que representa o número 9 junto com a letra hebraica ”ו” (vav) que representa o número 6, juntas elas formam a palavra “טו” (tu) que representa o número 15.

Por que não usamos a letra hebraica “י” (Yud) que representa o número 10 e a letra hebraica “ה” (hei) que representa o número 5 para juntas formarem o número 15 ?

Porque a união da letra “י” (yud) com a letra “ה” (hei) forma um dos nomes de Hashem (D’us) que não podemos apagar

O calendário judaico tem quatro datas que são chamadas de ano novo

Tu b’Shvat, o décimo quinto dia do mês hebraico de Shvat, é o ano novo das árvores.

O primeiro dia do mês judaico de Elul é o ano novo dos animais

Os primeiro segundo dias do mês de Tishrei são Rosh hashaná são o aniversário do mundo. Ou seja, o começo  do ano a partir da criação do mundo. Rosh Hashaná, é um dia santificado, um Yom Tov.

O primeiro dia do mês judaico de Nissan é o ano novo da Torá que determina a ordem dos meses de acordo com a saída do Egito. Ou seja, o primeiro mês da Torá é Nissan e o mês de Tishrei é o sétimo mês

A Guemará se refere a Tu b’Shvat como o “Ano Novo das Árvores”. Essa data é relevante para certas leis da Torá que dizem respeito à agricultura na Terra de Israel.

Pode, portanto, parecer estranho celebrar essa data, mas o dia 15 de Shvat sempre foi um dia festivo para o Povo Judeu, mesmo quando a grande maioria dos judeus viviam na Diáspora.

Segundo as leis judaicas para essa data, não falamos TaHanun que são as rezas nas quais pedimos desculpas pelas coisas erradas que fizemos.

Sendo que Tu b’Shvat é o “Ano Novo das Árvores”, costumamos comer frutas nessa data, especialmente as que são típicas da Terra de Israel.

Trata-se de um dia festivo porque mesmo não sendo uma data sagrada, tem grande significado para nosso povo.

Seu tema principal é a conexão entre Am Israel (o Povo Judeu) e Eretz Israel (a Terra de Israel).

O fato de a Torá reger até mesmo as leis agrícolas na Terra de Israel é um poderoso lembrete de que Eretz Israel é a herança por direito e eterna do Povo Judeu, e de que D’us deseja que os judeus que vivem nela, vivam de acordo a Torá mesmo quando estão na rotina do trabalho do dia a dia.

Mas o Ano Novo das Árvores também possui um tema universal, uma lição de como viver, que serve a todos os seres humanos. É uma lição relevante para todas as pessoas, independentemente de gênero, idade, religião, nacionalidade ou etnia.

“O Homem é a árvore do campo”

A palavra Torá deriva da palavra hebraica hora’á, que significa instrução.

A Torá não é apenas um livro de autoria Divina, contendo relatos e leis, mas também um projeto de vida.

Tudo o que estudamos na Torá deve servir de lição para ser colocada na prática em nossas vidas.

Portanto, quando a Torá afirma que Ha’Adam Etz HaSadé “O Homem é a árvore do campo” (Deuteronômio, 20:19), está transmitindo um ensinamento relevante para nossa vida.

Esse versículo pode ser interpretado de diversas formas, mas, qualquer que seja a interpretação, está claro que a Torá ensina que há um íntimo relacionamento entre seres humanos e as árvores dos campos.

Sendo Assim, o Ano Novo das Árvores pode ser, também, um Novo Ano para os homens.

A ideia de que os seres humanos e as árvores estejam, de certa forma, relacionadas, encontra eco em um dos Livros dos Profetas, onde está escrito: “Como os dias de uma árvore serão os de Meu Povo” (Isaías, 65:22).

Para entender a mensagem desse versículo e o que a Torá ensina ao afirmar que Ha’Adam Etz HaSadé, é necessário primeiro considerar de que forma os seres humanos levam sua vida.

Um dos maiores problemas dos seres humanos, em todas as partes, e especialmente na cultura ocidental, é como se relacionar com sua idade.

Biologicamente, os seres humanos têm uma infância muito mais longa do que as outras espécies, pois somos criaturas complexas que exigem um treinamento mais prolongado.

São necessários muitos anos para nos tornarmos autossuficientes.

Além disso, em virtude do enorme potencial do intelecto humano, a maioria de nós dedica muitos anos de vida em busca de educação e treinamento.

No Brasil e em outros países modernos, as crianças frequentam a escola até completarem dezessete ou dezoito anos, e a maioria dos que têm condições também continuam para a faculdade.

Em anos recentes, muitas pessoas decidiram que um título acadêmico não era suficiente e continuaram estudando para obter um título de mestrado e até de doutorado.

Esses anos de instrução, que podem durar entre dezoito a trinta anos ou mais, são considerados como preparação para a vida.

Quando um aluno está na escola, está-se preparando para a faculdade; quando está na faculdade, prepara-se para a pós-graduação; e quando está na pós-graduação, faz seu preparo para a vida.

Segundo esse ponto de vista, a vida apenas começa quando a pessoa deixa a “Torre de Marfim” e entra no “mundo real”.

Pode-se argumentar que uma das razões pelas quais as pessoas dedicam cada vez mais anos a se preparar para a vida é que os seres humanos estão vivendo mais, já não é tão raro uma pessoa viver mais de 90 anos.

Mas apesar desse aumento da longevidade, na maioria das sociedades as pessoas percebem que seus anos de ouro são o período de sua vida em que se torna menos relevante.

Os muitos anos que passa na escola são o prólogo de sua vida, ao passo que a velhice é o epílogo – geralmente também um período longo.

Entre esses dois períodos, o prefácio da vida e o epílogo da vida, transcorre “a história” da nossa vida, o tempo no qual as pessoas se consideram seres humanos capazes de realizar, ao máximo, o seu potencial.

Há uma parábola árabe que ilustra essa ideia. Um leão que deseja ensinar seu filhote acerca do mundo, lhe diz: “Nós, leões, não tememos nenhuma criatura exceto os seres humanos.

Eles são perigosos. Quero mostrar-lhe qual a aparência deles, para que você os conheça e fique à espreita”.

Eles veem uma criança e o filhote pergunta: “Isto é um homem?” O leão responde: “Ainda não”. Eles veem, então, um velho, e o filhote pergunta: “Isto é um homem?”. O leão responde: “Não mais”.

Essa parábola retrata a maneira pela qual muitos de nós vemos a vida:

até que um ser humano atinja o estágio em que ele é “adulto”, ele ainda não vive; e quando ele já ultrapassou certa idade, ele já viveu, ainda que permaneça fisicamente vivo.

Assim, quando somos jovens, fazemos planos e nos preparamos para o futuro e sonhamos com o que ele nos trará; e quando somos idosos, nos lembramos do passado, com prazer ou com pesar.

Essa forma de ver e viver a vida abrange apenas uma pequena parte de nossa vida. Essa vida é semelhante a uma viagem de férias cujo trajeto de ida e volta demora muito: passa-se muito tempo na estrada, em viagem, e pouco tempo no local das férias.

Um dos problemas de se viver dessa forma – acreditando que há um “antes” e um “depois” – é que nossas vidas se tornam segmentadas e curtas, mesmo se vivermos muitos anos.

Geralmente dedicamos tempo em demasia ao “antes” e nos resignamos ao “depois” e, como consequência, não dedicamos tempo suficiente a viver.

Quando a pessoa está no estágio do “antes”, pensa no que acontecerá, e quando está no “estágio posterior”, pensa no que aconteceu ou em como poderia ter sido.

Em ambos os casos, não dá atenção suficiente ao presente. Como resultado, as pessoas passam a maior parte de sua vida no futuro ou no passado, mas raramente no presente.

Esse tipo de vida pode ser cheia de frustração, desapontamento e estresse, pois o futuro geralmente é diferente do que se imaginava e o passado não pode ser revivido ou modificado.

Há um poema famoso de um de nossos grandes Sábios, Ibn Ezra, que diz: “O passado já se foi, o futuro, ainda não chegou. O presente é como um piscar de olhos. Qual o motivo, então, para nossas preocupações?”.

Esse poema pode ser traduzido assim: “Se o passado já se foi e o futuro ainda não chegou, e o presente passa tão rápido como um piscar de olhos, o que, então, é a nossa vida?”.

Não se trata de uma pergunta trivial. Na realidade, é uma pergunta que trata do que representa a vida. Talvez seja a pergunta mais importante que temos que nos fazer.

 

A lição de Tu b’Shvat

 

Tu b’Shvat, o ensinamento de que o Homem é a árvore do campo, e o versículo de Isaías – “Como os dias de uma árvore serão os dias de Meu Povo” – fornecem uma resposta a essa pergunta.

A resposta é universal e se aplica a todos os seres humanos.

É, também, atemporal, relevante a todas as gerações e especialmente à nossa. “Como os dias de uma árvore serão os de Meu Povo” nos ensina que todo ser humano precisa, como uma árvore do campo, viver uma vida de crescimento constante e ininterrupto.

Há diferentes tipos de árvores: algumas são grandes, outras são pequenas, e o ritmo de crescimento ou a qualidade dos frutos de cada uma pode variar enormemente.

Mas as árvores nunca param de crescer.

Esse é o crescimento constante a que todos os seres humanos deveriam aspirar, essa é a lição que D’us transmite, a cada um de nós, através do profeta.

Devemos viver no presente, como um bebê que não desperdiça tempo especulando sobre como sua vida será quando ele tiver 30 ou 80 anos.

Devemos viver e tentar tirar o melhor proveito de cada dia. Isso não significa que devemos viver como se não existisse um amanhã.

A ideia de que “devemos comer e beber e nos divertir, porque amanhã morreremos” é fortemente condenada pelo judaísmo.

Viver no presente tirando o máximo proveito do dia – não significa viver uma vida hedonista e inconsequente.

Tampouco significa que devemos abreviar a educação e a preparação. Na verdade, a Lei Judaica ordena que todas as crianças recebam uma educação adequada.

O estudo está na raiz da vida judaica; o estudo da Torá é o principal mandamento do judaísmo e a Torá ordena que todas as crianças sejam treinadas em uma profissão.

O que viver no presente significa é que em vez de desperdiçar tempo precioso tentando adivinhar o que o futuro nos reserva ou sobre o que o passado foi ou deveria ter sido, devemos, pelo contrário, pensar sobre o tipo de vida que vivemos agora.

O presente é onde há vida, e como uma pessoa viva e funcional, cada ser humano deve fazer uso, ao máximo, do tempo de vida que possui.

Uma criança de oito anos deve viver a vida de uma criança de oito anos – e não passar os dias preocupada acerca de sua profissão futura dali a 20 anos, o mesmo se aplica a uma pessoa de 90 anos.

Talvez ela não consiga fazer tanto quanto fazia aos 30, mas há inúmeras coisas que consegue fazer que são compatíveis com sua idade.

Com a velhice vem um dom precioso que não pode ser comprado nem aprendido na faculdade: a experiência.

É uma pena que a arrogância da juventude geralmente não nos faça perceber esse fato.

Talvez a pessoa de 90 anos não consiga correr tão rápido ou usar o computador tão bem quanto alguém de 20 anos. Mas o que ela tem a ensinar é inestimável. Como ensina o Talmud: “Se os anciãos dizem “destrua” e os jovens dizem “construa”, destrua e não construa, porque a destruição feita pelos anciãos é construção e a construção pelas mãos dos jovens é destruição” (Nedarim, 40a).

No Pirkei Avot, livro sagrado de sabedoria e ética judaica, está escrito: “Uma criança de cinco anos começa a estudar as Escrituras; uma de dez, a Mishná; uma de treze é obrigada a observar os mandamentos; uma de quinze começa a estudar a Guemará…”.

Esse ensinamento do Pirkei Avot, um livro que é estudado há 2 mil anos, reflete as ideias que discutimos acima: que cada idade tem suas próprias tarefas, responsabilidades e exclusivas possibilidades.

Em vez de alguém dizer: “Agora que tenho treze anos de idade, o que deverei fazer quando chegar aos dezoito?, essa pessoa deveria pensar: “Estou com treze anos; o que deveria estar fazendo, agora?”

Essa é a maneira como viveram nossos Sábios ao longo das gerações. O ponto focal de sua vida não foi o que o amanhã lhes traria ou quão bom ou ruim tinha sido o passado. Ao contrário, seu foco era o que deveria ser feito hoje.

Perguntaram ao filho de um famoso Tzadik, homem verdadeiramente justo: “O que foi a coisa mais importante que seu pai fez?”. Ao que ele respondeu: “Aquilo que estava fazendo a cada momento”.

As pessoas geralmente passam a vida se perguntando: “O que o amanhã me reserva?”, ou “O que será do mundo quando o Mashiach vier?”. Tais perguntas não são tão relevantes.

O importante é perguntar: “Esta é a situação da minha vida, do que me cerca e do mundo como um todo. O que devo fazer hoje para melhorá-lo?”.

A Torá nos proíbe adiar um Mandamento para cumprir outro. A razão para isso é que não apenas não devemos fazer distinção entre os Mandamentos Divinos, mas também porque temos que viver o dia de hoje porque não há garantia nenhuma de que haverá um amanhã.

O presente não pode ser sacrificado pelo futuro e nenhuma oportunidade pode ser desperdiçada.

A maioria de nós, no entanto, não vive dessa maneira. Raramente vivemos no presente e raramente estamos concentrados naquilo que estamos fazendo.

Durante nossas rezas, pensamos, em geral, sobre assuntos de negócios ou questões mundanas e, no trabalho, geralmente pensamos sobre o que iremos fazer ao deixar o escritório.

Com frequência, nosso corpo está em um lugar e nossa mente e coração, em outro. Se conseguíssemos nos concentrar apenas no que estamos fazendo, se aprendêssemos a maximizar nosso tempo e viver no presente, nossa vida se tornaria muito mais dotada de objetivo e tão mais eficaz.

O Rebe de Lubavitch contou uma história sobre seu sogro, o Rabi Yosef Yitzhak Schneerson, o Lubavitcher Rebe anterior, que esclarece bem esse conceito:

Assim contou o Rebe:

Naquela época meu sogro vivia em Leningrado e tinha planejado uma viagem a Moscou. Seu trem deveria partir dentro de meia hora.

Isso foi durante o período que os comunistas haviam declarado guerra contra a religião e, em particular, contra o empenho de meu sogro em promover o judaísmo.

Ele era seguido onde quer que fosse e se espalhara a notícia de que o Governo estava pronto para detê-lo, a qualquer custo.

Quando entrei na sala, fiquei surpreendido ao ver que, apesar de seu trem estar programado para partir dentro em pouco, ele estava perfeitamente composto, trabalhando em sua mesa, totalmente despreocupado com o perigo iminente.

Perguntei a ele: ‘Como consegue ter tanto autocontrole em uma hora dessas? ’

Ele me contou que seu pai lhe contou uma vez, de algo chamado de ‘sucesso com o tempo’. ‘O que isso quer dizer?’, perguntei. Ele explicou: ‘Você não pode adicionar mais horas ao dia; então, quando está envolvido em uma atividade, deve estar totalmente focado nela, como se nada existisse antes ou depois dela”.

Viver dessa maneira, concentrados no presente e naquilo em que estivermos envolvidos, não significa que não nos estamos preparando ou não estamos fazendo planos para o futuro

E também não quer dizer que esquecemos ou não aprendemos do passado.

Viver no presente não significa levar uma vida irresponsável ou descuidada. Bem ao contrário, significa levar uma vida mais intensa, livre de fantasias e remorsos.

Significa se esforçar para atingir “sucesso com o tempo”, que leva ao crescimento genuíno – a uma vida produtiva e rica em conteúdo, na qual cada dia e cada hora do dia são bem aproveitados.

Os dias de cada ser humano devem ser “como os dias de uma árvore”– de incessante e frutífera vitalidade.

Devemos realmente aprender com as árvores: se olharmos para o que restou de uma árvore cortada, podemos ver pequenos brotos verdes dos galhos.

O que parece morto, na verdade contém uma seiva vital que irrompe com força: uma folhinha nova, um novo galho.

A árvore cresce, mesmo que tenha sido derrubada, porque ela não lamenta o passado nem se permite ficar paralisada, preocupada se crescerá ou não no futuro.

Simplesmente segue seu ritmo de crescimento e, no momento certo, dá os frutos.

Há uma outra vantagem em se viver a vida como uma árvore do campo: é o fato de podermos desfrutar as diferentes fases da vida e as vantagens que oferecem, cada uma delas.

Quando se vive no presente, não se é aprisionado na armadilha do tempo: é possível desfrutar os benefícios únicos de cada uma das fases da vida

infância, adolescência, idade adulta e velhice.

Aqueles que tentam driblar esse processo viajando no tempo, seja no passado ou no futuro, geralmente não levam vidas muito produtivas e saudáveis.

Por outro lado, aqueles que vivem como nos aconselha a Torá – entendendo que independentemente da idade da pessoa ou de sua situação, cada dia tem seu propósito e D’us espera que façamos bom uso do tempo que Ele nos dá na Terra, geralmente levam uma vida justa e rica, deixando ao mundo um legado de muito significado.

Esta é, pois, uma das principais lições de Tu b’Shvat.

O Novo Ano das Árvores é, também, um Ano Novo para os homens, pois oferece a todos nós um novo começo: a oportunidade de começar a vida de novo.

Vamos tentar, então, individual e coletivamente, ser árvores do campo, nos empenhando em ter “sucesso com o tempo”, e crescer incessantemente e produzir muitos frutos bons em todas as facetas de nossa vida, seja física seja espiritualmente.

 “כי האדם עץ השדה” (דברים כ, יט).

Porque o homem é a árvore do campo (Devarim 20/19)

 

Três partes compõem uma árvore:

As raízes, o tronco que se ramifica em galhos, e os frutos.

E assim também somos nós.

As raízes são a parte que ninguém vê, mas delas é que a árvore recebe toda a sua força e vitalidade para que o tronco cresça e os galhos dêem frutos.

Quanto mais fortes forem as raízes, mais forte será a árvore

Nossas raízes são a fé que nos liga a D’us e nos dá forças para viver. A fé se compara às raízes porque não precisa do intelecto para existir.

Rabi Shneor Zalman de Liadi explica no seu livro chamado de Tanya que esse é o motivo pelo qual a pessoa mais simples e menos estudada pode sacrificar a própria vida para não fazer idolatria, como aconteceu nas cruzadas e na inquisição. Só a fé nos leva a agir assim.

E sendo que a fé está sempre viva e oculta na nossa Alma, mas desperta em situações extremas como vimos na inquisição, ela é comparada às raízes da árvore que estão sempre ocultas, continuam vivas mesmo se a árvore for cortada e delas a árvore renasce novamente

O Tronco com suas ramificações que são os galhos são comparados à Torá com suas ramificações que são as Mitzvót, os Mandamentos Divinos.

E como o tronco com seus galhos são a parte principal da árvore, assim também o estudo da Torá e a prática das Mitzvót ocupam a maior parte da nossa existência

Mas o objetivo das raízes e do tronco e seus galhos só é atingido quando a árvore começa a dar frutos. É pelos frutos que vemos se a árvore está realmente viva.

Nossa vida judaica também deve seguir este exemplo.

Não podemos nos contentar com a Torá que estudamos e com as Mitzvót que cumprimos, mas como a árvore, devemos produzir frutos.

Ou seja, influenciar as pessoas a nossa volta, quer estejam distantes ou próximas, para que o judaísmo que as compõem também se transforme em árvores sólidas, com um futuro promissor

 

Tu B’Shvat

“Porque o Eterno, teu D’us te traz a uma boa terra… terra de trigo e cevada, de figueira e de romeira; terra de oliveira que dá azeite, e de tamareira” (Deuteronômio 8:7-9)

O décimo quinto dia do mês judaico de Shvat, Tu B’Shvat, é o Ano Novo das Árvores, um dos quatro Anos Novos judaicos.

Os outros três são o primeiro dia de Tishrei que é o Rosh Hashaná a partir da criação do mundo, o primeiro dia de Nissan que é o Rosh Hashaná a partir da saída do Egito, e primeiro dia de Elul que é o Rosh Hashaná lemaasser behemá que poderia ser chamado de o ano novo dos animais.

Qual o motivo de termos um Ano Novo específico para as árvores?

Mandamentos Divinos que dependem da Terra Santa

Segundo a Lei da Torá, o ciclo agrícola na Terra de Israel leva sete anos, e conclui com um ano sabático, a Shemitá.

Quando o Beit Hamikdash, o  Templo Sagrado de Jerusalém, estava de pé, nos seis primeiros anos de cada ciclo os fazendeiros eram obrigados a separar uma parte de sua produção anual para os seguintes propósitos sagrados:

Trumá:

Mais ou menos 2% da produção eram dados a um Cohen,  isso é chamado de Trumá

Maasser Rishon:

10% da produção era dado a um Levi, e isso se chama Maaser Rishon que é o Primeiro Dízimo.

Maasser Sheini:

Nos anos um, dois, quatro e cinco de cada ciclo, os fazendeiros tinham que separar outros 10% de sua produção e comê-los em Jerusalém.

Esse dízimo é chamado Maaser Sheni que é o Segundo Dízimo.

Maasser Ani:

No terceiro e sexto ano do ciclo, em vez de comer o Maaser Sheni em Jerusalém, os fazendeiros davam esse Segundo Dízimo aos pobres.

Esse segundo dízimo do terceiro e sexto ano é chamado de Maasser Ani  e os pobres podiam comer o Maasser Ani onde quisessem.

Shemitá

O sétimo ano desse ciclo é chamado de Shemitá e nele não havia separação de dízimos porque toda a produção que cresce durante a Shemitá não tem dono e pode ser colhida por qualquer um.

Como a Torá não nos permite separar dízimos das safras de um ano para o outro, era fundamental determinar o início de uma nova safra.

Nossos Sábios determinaram que os frutos que floriam antes do dia 15 de Shvat eram safra do ano anterior.

Se cresciam a partir desse dia 15, eram produto do novo ano.

Isso em relação às frutas das árvores, mas o ano novo para grãos, legumes e verduras é o primeiro dia  de Tishrei, Rosh Hashaná.

Por que, então, o ano novo das frutas é no dia 15 de Shevat e não em Rosh Hashaná?

Porque na Terra Santa, único lugar do mundo onde podemos cumprir esse Mandamento Divino, a estação chuvosa se inicia na festa de Sucot.

Leva aproximadamente quatro meses de Sucot que se inicia no dia 15 de Tishrei até o dia 15 de Shevat para que as chuvas do ano novo penetrem totalmente no solo e as árvores dêem frutos.

Todos os frutos que florescem antes são produto das chuvas do ano anterior e, portanto, contabilizados para os dízimos juntamente com a safra do ano anterior.

As leis dos dízimos são técnicas.

Preenchem muitas páginas do Talmud Yerushalmi, mas têm pouca relevância para a maioria de nós.

Na verdade, Tu B’Shvat é uma data que não teve significado prático durante os milênios em que o Povo Judeu esteve exilado da Terra de Israel.

Mesmo assim Tu BiShvat sempre foi uma data festiva no calendário judaico.

Ainda que não seja um Yom Tov, um dia sagrado,, é uma data festiva na qual não falamos a reza de Ta’hanun.

São muitas as razões para esse dia ser festivo. Uma delas é o fato de que durante os 2000 anos em que nós, judeus, vivemos na Diáspora, Tu B’Shvat nos recordava a conexão eterna de nosso povo com a Terra de Israel.

Outra razão para sempre termos celebrado Tu B’Shvat é que apesar de ser o Ano Novo das árvores, atribuímos significado especial à data pois, como nos ensina a Torá, “o homem é a árvore do campo” (Deuteronômio 20:19).

As leis referentes a essa data podem ser técnicas e irrelevantes para muitos judeus, mas nossos Sábios derivam muitas lições relevantes da comparação que a Torá faz entre o homem e a árvore do campo.

Celebramos Tu B’Shvat comendo frutas, particularmente as sete espécies destacadas pela Torá como prova da fertilidade da Terra de Israel: trigo, cevada, uvas, figos, romãs, azeitonas e tâmaras.

Shivat HaMinim – as Sete Espécies da Terra de Israel

Fora o fato de a Torá ser um livro de leis e ensinamentos, a Torá também é um código.

Fora o fato de ela significar exatamente o que está escrito, ela também tem infinitos níveis metafóricos e alusivos em suas entrelinhas.

Por exemplo, quando a Torá afirma que a Terra Prometida se distingue por meio de suas sete espécies de plantas, faz alusão à alma do homem e às sete qualidades que a movem e enriquecem.

Como um dos propósitos primordiais do estudo da Torá, e particularmente da Cabalá, é atingir-se o autoconhecimento, é importante nos aprofundarmos no que dizem os livros místicos sobre o simbolismo das Shivat HaMinim, as Sete Espécies da Terra de Israel  que costumamos comer na celebração de Tu B’Shvat.

1. Trigo: Transcendência

Aprendemos na Cabalá que cada um de nós tem duas almas distintas: uma Divina, que incorpora nossos impulsos transcendentes, e uma animal, que é a origem de nossos instintos naturais e auto orientados.

Na Torá, o trigo é considerado a base da dieta humana, enquanto a cevada é mencionada como alimento animal (Talmud Bavli, Sotá 14a).

O trigo simboliza a Alma Divina e a cevada simboliza a alma animal.

O trigo representa o empenho humano em buscar transcendência – ou seja, elevar-se para alcançar o Divino.

A Guemará  nós conta que o fruto proibido no Jardim do Éden era o trigo que naquela ocasião era alto como um coqueiro.

mesmo que o trigo não seja tecnicamente uma fruta, sua natureza era diferente no Gan Éden.

Por que teria Eva caído à tentação e ter comido o fruto proibido? Porque a cobra disse para ela que se ela comesse aquela fruta ela seria como D’us.

Ou seja, eles acharam que assim estariam mais unidos à D’us, e esse foi o erro de avaliação que eles fizeram naquela hora..

Contrariamente à alma animal, que busca a autopreservação e o prazer, a alma Divina busca a união com D’us.

A pessoa que apenas alimenta sua alma animal e priva a Divina de seu alimento espiritual, nunca encontrará a verdadeira felicidade, satisfação e paz.

A Alma Divina somente pode ser alimentada com espiritualidade. O trigo, a primeira das Sete Espécies, nos ensina que nossa prioridade na vida tem que ser nutrir, adequada e plenamente, nossa Alma Divina.

2. Cevada: Vitalidade

A cevada antigamente era alimento animal, e por isso ela representa a alma animal.

Aparentemente, o trigo tem uma conotação positiva e a cevada, negativa. No entanto, é um erro acreditar que a alma animal deva ser menosprezada. Segundo a Cabalá, nosso empenho em nutrir e desenvolver a alma animal é uma tarefa não menos fundamental para nossa missão na vida do que o aperfeiçoamento da Alma Divina.

É verdade que, contrariamente à Alma Divina, a alma animal é envolta em uma carga de negatividade, egoísmo, ganância, luxúria, vaidade e crueldade, entre muitas outras falhas humanas.

Mas ela tem certas vantagens sobre a alma Divina que são a vitalidade, a determinação e a paixão que o lado mais espiritual do ser humano não possui, em geral.

Aqueles que sabem aproveitar a vitalidade da alma animal podem realizar grandes coisas, talvez até mais do que aqueles que são principalmente impulsionados pela alma Divina.

O essencial é que se use a alma animal para causar impacto positivo no mundo, pois nada é mais destrutivo do que a vitalidade mal direcionada.

A cevada, segunda das Shivat HaMinim, nos ensina que se direcionarmos adequadamente nossa alma animal, esta pode ser um excelente aliado de nossa Alma Divina e nos ajudar a executar a nossa missão neste mundo.

3. Uva – Alegria

As uvas são associadas com a alegria. Como está no Tana’h, “…que alegra a D’us e aos homens…” (Juízes 9:13).

A alegria é um elemento indispensável à vida. A Torá nos ordena servir a D’us com alegria e desaprova a tristeza e a depressão.

A importância da alegria se percebe em tudo. Quando estamos alegres, tudo o que fazemos fica mais evidente: nossa mente fica mais brilhante, nosso amor mais profundo, nossos desejos mais intensos.

A alegria permite que as emoções brotem. Como ensina o Talmud, “Quando o vinho entra, os segredos saem”.

Quando nos embebedamos de alegria, podemos revelar mais facilmente os grandes tesouros que estão profundamente aninhados em nossa alma.

Por outro lado, uma vida sem alegria é rasa e vazia. O ser humano pode ter tudo, pode possuir uma infinidade de bênçãos materiais e espirituais, mas se não tiver alegria, não viverá toda a plenitude da vida.

Tanto a Alma Divina como a alma animal contêm amplos reservatórios de discernimento e sentimento, mas, na ausência de alegria, esse manancial nunca é expresso plenamente porque não há nada que os estimule.

A uva representa justamente o elemento que libera esses potenciais, adicionando-lhes cor, profundidade e intensidade em tudo o que fazemos.

4. Figo – Envolvimento

Uma vida plena, no entanto, não exige apenas alegria mas também envolvimento.

Podemos realizar muitas coisas de forma séria e competente, mas podemos não estar envolvidos muito profundamente na tarefa que temos que realizar.

Envolvimento significa mais do que executar algo com cuidado e precisão; significa envolver-se plenamente em algo com nossa mente, coração e alma.

O figo simboliza esse envolvimento.

São várias as opiniões a respeito da identificação do fruto proibido no Jardim de Éden: uva, trigo e Etrog.

Mas há também uma opinião que diz que o fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal era o figo.

Como ensina a Cabalá, o conhecimento requer um profundo envolvimento, e esse envolvimento é simbolizado pelo figo, envolvimento com algo ou com alguém.

O pecado original se originou na recusa do ser humano em se reconciliar com o fato de que há certas coisas com as quais não se pode envolver.

Adão e Eva comeram o fruto proibido porque queriam se igualar a D’us. Queriam se envolver com cada uma das criaturas Divinas, mesmo com o mal, que D’us proibira.

O figo também simboliza nossa capacidade de envolvimento profundo e íntimo com nossos esforços positivos, um envolvimento que significa que nos preocupamos profundamente com tudo o que fazemos.

5. Romã – Ação

Romãs simbolizam ação.

Há muitas ocasiões, na vida, em que o imperativo nos dita simplesmente realizar algo, sem sentir nem pensar, mas agir.

Por exemplo, a Torá nos impõe cumprir seus mandamentos mesmo se cumprirmos eles sem conscientização, sem alegria ou sem envolvimento.

Dizem nossos Sábios que o mais importante é a ação.

O Judaísmo está muito mais preocupado com as ações de uma pessoa do que com suas intenções.

É melhor ajudar pessoas carentes mesmo sem sentirmos compaixão do que estar cobertos de piedade pelos necessitados e não fazermos nada para socorrê-los.

Há um famoso ensinamento talmúdico que diz que “mesmo os vazios, entre os judeus, estão repletos de boas ações como a romã está repleta de sementes”.

Um dos significados desse ensinamento é que mesmo quem é “vazio” – aquele que possui pouco conhecimento e não está ligado com sua Alma Divina, mesmo ele realiza uma enormidade de boas ações.

Trata-se de uma característica que redime a alma humana: a capacidade de erguer-se acima de si mesmo e fazer o que é certo mesmo quando não se tem motivação para isso.

6. Azeitona – Desafio

Um dos grandes mistérios da condição humana é que, em geral, somos mais inovadores e capazes quando nos deparamos com limitações, pressões e dificuldades.

Damos o melhor de nós quando pressionados, quando enfrentamos uma situação desafiadora ou opressiva.

A sexta qualidade da alma é representada pela azeitona, que, espremida, produz azeite de oliva – fonte de sustento e de luz.

A azeitona representa a capacidade humana de transformar dificuldades em forças poderosas para a realização e o crescimento – física e espiritualmente.

7. Tâmara – Tranquilidade

Em contraste com a azeitona temos a sétima fruta, a tâmara, que simboliza nossa aptidão para a paz, tranquilidade e perfeição.

É bem verdade que damos o melhor de nós diante de um desafio, mas também é verdade que há muito potencial em nossa alma que apenas emerge quando estamos em paz, apenas quando atingimos o equilíbrio e a harmonia entre os diferentes componentes de nossa alma.

Está escrito no Livro dos Tehilim que “Os Tzadikim  florescerão como a tamareira” (Salmos 92:13).

O Zohar, obra fundamental da Cabalá, explica que há uma certa espécie de tamareira que só dá frutos após 70 anos.

O aspecto emocional da nossa Alma é composta de sete atributos básicos, cada um deles, por sua vez, com 10 subcategorias.

Assim, o Tzadik que floresce após cumprir 70 anos é fruto de uma Alma  cujo caráter, em todas os seus aspectos foi refinado e está em harmonia consigo mesmo, com os seus semelhantes e com D’us.

Apesar de azeitonas e tâmaras serem antíteses metafóricas, ambas podem existir dentro de todo ser humano.

Mesmo em meio a nosso empenho mais ardente, podemos sempre encontrar conforto e força na perfeição que reside na essência de nossa Alma.

Ao mesmo tempo, mesmo quando encontramos a paz interna e com o mundo, sempre podemos encontrar um desafio que nos impulsione a realizações ainda maiores.

Tu B’Shvat é um dia festivo que nos transmite muitas lições.

Com as Sete Espécies da Terra de Israel aprendemos que a vida é plena quando o ser humano é guiado pela transcendência de sua Alma Divina e impulsionado pela vitalidade de sua alma animal.

As Sete Espécies também nos ensinam que uma vida plena requer alegria, envolvimento, vontade de agir, habilidade de vencer as dificuldades e capacidade de encontrar tranquilidade dentro de si próprio e no mundo.

Um dos temas centrais de Tu B´Shvat é a comparação entre o homem e a “árvore do campo”. Assim como o fruto é a maior conquista da árvore, D’us pede para todos os seres humanos usarem seus poderes e recursos espirituais para constantemente dar frutos.

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O exemplo de Tu Bishvat 

Por que nossa tradição judaica conservou no nosso calendário a festa de Tu Bishvat, também designada por “Rosh Hashaná das árvores”?

Nossos mestres nos respondem que o que faz a importância desta data é sobretudo o exemplo que a árvore nos inspira.

Três partes compõem uma árvore: raízes, tronco e frutos. E assim também é o homem.

Raízes

Ninguém as vê. Estão escondidas sob a terra, mas paradoxo estranho, é destas que a árvore tirará toda sua força e vitalidade. Quanto mais fortes forem, mais forte será a árvore, sem que nenhum vento poderá arrancá-la da terra.

Para um judeu, a existência se baseia no mesmo princípio. As raízes são a fé que o liga a D’us e lhe dá forças para viver.

Esta fé não é dominada pelo intelecto. Como as raízes, está embutida na consciência judaica e é a expressão mais sublime da sua união com D’us.

É o que explica e ensina o Tanya (livro de base da tradição chassídica, escrito pelo Rabi Shneor Zalman de Liady): mesmo os judeus que praticamente nunca estudaram, estão prontos para oferecer sua vida em sacrifício, em vez de se converter.

Nenhum estudo justifica seu gesto. Só a fé os leva a agir assim. E, como a árvore de raízes sólidas, nossa história está sempre viva, porque a fé de nossos pais está viva.

Tronco

É o que simboliza, para um judeu, a Torá e a prática das Mitzvot, que devem ocupar a maior parte de sua existência.

É através destas, como um tronco que é parte evidente da árvore, que o judeu pode se impor e se definir.

Frutos

No entanto, a plenitude de uma árvore só será atingida quando começar a dar frutos. Para que serviriam as raízes profundas e um tronco imponente, se nada vivo saísse dos mesmos?

É pelos frutos que vemos se a árvore está realmente viva. Nossa vida judaica também deve seguir este exemplo.

Não podemos nos contentar com um judaísmo cuja mera preocupação seja nossa própria pessoa.

Como a árvore, devemos produzir frutos, isto é, influenciar as pessoas a nossa volta, quer estejam distantes ou próximas, para que o judaísmo que as compõe também se transforme em árvores sólidas, com futuro promissor.

Rabino Gloiber

Sempre correndo

Mas sempre rezando por você

www.RabinoGloiber.org

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