Para quem Moshe Rabeinu traduziu a Torá ?

*Mais detalhes sobre a nossa Parashá*

Nossa Parashá nos conta que antes de falecer, Moshe Rabeinu começou a traduzir a Torá para setenta línguas.

Pelo fato de ele ter feito isso no final da sua vida no lugar de passar seus últimos momentos com a sua família vemos a extrema necessidade e importância dessas traduções.

Mas quando nos perguntamos para quem ele precisou fazer essas traduções não sabemos responder!

Se essas traduções foram feitas para o nosso povo, sabemos que mesmo estando no Egito durante 210 anos eles não mudaram seu idioma mas continuaram falando o hebraico clássico que era falado pelos nossos patriarcas e que vinha desde a criação do mundo.

Se essas traduções foram feitas para a “Erev Rav”, a “grande mistura” que era uma multidão de egípcios que saíram com o nosso povo de lá, seria o suficiente traduzir a Torá para a língua egípcia antiga.

Se essas traduções foram feitas para as pessoas que futuramente iriam se converter ao judaísmo elas seriam desnecessárias, sendo que essas pessoas teriam que fazer parte de uma comunidade judaica e para isso teriam que falar a língua falada pela comunidade.

Na época de Moshe Rabeinu a única comunidade judaica que existia no mundo era o povo de Israel no deserto que em breve entraria na “terra prometida” transformando ela em “Terra Santa” e fazendo do hebraico clássico sua língua oficial.

Portanto qualquer pessoa que quisesse se converter ao judaísmo e consequentemente viver na comunidade judaica teria que aprender o hebraico clássico, a língua do único lugar do mundo onde se encontrava absolutamente toda a comunidade judaica.

Sendo assim, aparentemente não havia nenhuma necessidade de traduzir a Torá para setenta línguas na época de Moshe Rabeinu.

Somente 810 anos depois de Moshe quando nosso povo foi exilado para a Babilônia e trocou sua língua oficial para o aramaico surgiu a necessidade de traduzir a Torá.

A tradução da Torá para o aramaico foi feita por Unkelus, o sobrinho do imperador romano Titus que destruiu o segundo Beit Hamikdash.

O próprio Unkelus tinha se convertido ao judaísmo e traduziu a Torá para o aramaico que não era uma das setenta línguas para as quais Moshe Rabeinu traduziu a Torá no final da sua vida.

D’us criou o mundo em hebraico clássico.

No sexto dia da criação, Adam e Havá (Adão e Eva) foram criados já falando hebraico clássico, e essa foi a língua do mundo inteiro até a Torre de Bavel.

Todas as pessoas naquela época tinham uma única língua que era o hebraico e juntos fizeram uma torre que chegaria até acima das nuvens, para provar cientificamente que não existe D’us.

Foi necessário um grande milagre para que a união de todos com o objetivo de fazer o mal terminasse.

D’us mandou para eles o anjo Gavriel que fez com que eles começassem a falar setenta línguas diferentes que deram origem à absolutamente todas as línguas do mundo fora o aramaico e o árabe.

O milagre das setenta línguas fez com que aquelas pessoas se espalhassem pelo mundo e dessem origem à setenta povos diferentes que são a origem de todos os povos de hoje.

Uma parte da humanidade, provavelmente a pequena parte que não havia participado da construção da torre de Bavel, continuou falando hebraico.

O hebraico mal falado virou o aramaico e o aramaico mal falado virou o árabe.

Sendo assim, a primeira vez que o nosso povo precisou realmente de uma tradução da Torá foi pelo menos 810 anos depois de Moshe Rabeinu.

Então voltamos à nossa pergunta inicial, porque Moshe Rabeinu gastou o precioso tempo do final da sua vida traduzindo a Torá para setenta línguas, tradução aparentemente desnecessária e que jamais foi usada?

*Moshe Rabeinu traduziu a Torá para nós!*

Com a entrega da Torá no Monte Sinai começou a sincronização entre o mundo de cima, o mundo espiritual, e o nosso mundo de baixo, o mundo material.

Por meio dos Mandamentos Divinos que recebemos no Monte Sinai trazemos a Santidade do mundo superior para nós próprios e para todo esse mundo, e o maior de todos os mandamentos Divinos é o próprio estudo da Torá.

Sendo que o aspecto mais elevado da nossa Alma Divina é o intelecto que são as três primeiras “Sefirot” chamadas de “Mo’him”, o estudo da Torá, principalmente da parte oculta da Torá, é o Mandamento Divino que mais nos traz Kedushá (Santidade).

Sendo que o mundo foi criado em hebraico clássico e a Torá foi dada ao nosso povo no hebraico clássico, o Mandamento Divino do estudo da Torá e a Santidade que ele nos traz não teria como recair sobre um estudo de Torá feito em outra língua que não fosse o próprio hebraico clássico.

Por isso Moshe Rabeinu se empenhou tanto na tradução da Torá para as setenta línguas que eram as raízes das línguas atuais, porque por meio dessa tradução feita por ele próprio que recebeu a Torá de Hashem (D’us) e a repassou para nós, o Mandamento Divino de estudar Torá se estendeu também para o estudo da Torá em qualquer língua que a Torá seja estudada.

Por isso, hoje quando você estuda a Torá em português você também cumpre o Mandamento Divino de estudar Torá e traz Kedushá para você e para o nosso mundo material.

Por isso devemos tomar todo o cuidado de não usar nas nossas traduções o português eclesiástico que tem como base o cristianismo que é o derivado direto da mitologia dos antigos romanos.

Para entendermos o que tem de tão grave com esse estilo de tradução vamos usar como exemplo a história que a Guemará nos conta sobre Adrianus, o imperador de Roma.

Adrianus estava incomodado com o fato de Unkelus, o sobrinho de Titus, ter se convertido ao judaísmo.

Adrianus mandou três vezes tropas de soldados romanos para trazer Unkelus de volta para Roma, mas sem sucesso.

Cada tropa que veio ouviu de Unkelus uma explicação diferente sobre a diferença entre o nosso D’us e a cultura deles, e a mensagem dessas histórias era a mesma:

A humildade Divina no judaísmo, a essência do bem que é o nosso D’us, exatamente o contrário da prepotência e tirania dos deuses mitológicos.

Mais futuramente a mitologia deu origem ao cristianismo mantendo os padrões dela na sua cultura, e isso vemos claramente nas traduções da Torá feitas por esses povos que enfatizam a distância entre D’us e o ser humano, sempre usando a terceira pessoa para se referir à D’us, traduzindo o “Atá” (você) da Torá como “vós”, e daí para frente em uma coletânea de erros de tradução com a clara intenção de fazer da nossa Torá a mitologia atualizada, deturpando intencionalmente a nossa cultura em prol da cultura deles.

Conclusão:

Moshe Rabeinu abriu mão dos últimos momentos da sua vida traduzindo a Torá para setenta línguas para que a santidade da Torá recaísse sobre as nossas traduções.

Temos a obrigação de valorizar o que ele fez por nós e fazer uma ponte direta entre as traduções de Moshe Rabeinu e as nossas traduções sem colocar no meio desse caminho as traduções de outras religiões que não são a nossa.

A Torá usa a linguagem que usavam as pessoas da época para facilitar à elas o entendimento.

Como por exemplo no caso da proibição de não comer, cozinhar ou ter proveito de carne cozida com leite, onde a Torá usa o termo “ não cozinhe o carneirinho com o leite da sua mãe”

Dizem nossos Sábios que “a Torá falou essa frase na linguagem das pessoas”, ou seja, das pessoas daquela época.

Aqui a Torá nos dá o exemplo de como devem ser as traduções.

Devem ser uma linguagem atual, clara, objetiva e de fácil entendimento para a maioria das pessoas da nossa época.

Como uma revista que você compra na semana em que ela foi escrita, e não uma tradução eclesiástica baseada nas traduções da Torá para o português pelos padres católicos da época da inquisição.

O mesmo se refere à transliteração que tem que ser acessível ao idioma falado pelas pessoas daquele país.

Os rabinos de Portugal de antes da inquisição faziam a transliteração da letra “ח” como “H”.

Daqui vemos que na língua portuguesa a letra mais próxima da letra “ח” é o”h”.

Rabino Gloiber
Sempre correndo
Mas sempre rezando por você

www.RabinoGloiber.org

Add Your Comment