
Vayerá
Nosso primeiro patriarca é conhecido por todos nós como Avraham Avinu. A palavra Avinu quer dizer “nosso pai”, ou seja, o pai do nosso povo, nosso patriarca.
Na Torá Avraham Avinu é chamado de Yvri, transliterado como hebreu e nosso povo de “o povo hebreu”. O significado dessa palavra é “alguém que vem da outra margem do rio”.
O conceito “Judeu” só surge a partir do filho de Yaakov chamado de Yehudá, transliterado como “Judá”. Yehudá deu origem à tribo de Judá que são chamados de judeus.
Mas de maneira genérica, costumamos chamar todo o nosso povo de “o povo judeu” porquê a palavra judeu, ou Yehudi em hebraico, vem da palavra hodaá, que significa reconhecer e expressar gratidão.
A essência do Judaísmo é definida explicitamente nesta palavra, e por isso, até o próprio Avraham Avinu que foi o bisavô de Yehudá e faleceu bem antes de ele nascer, é chamado de “o primeiro Judeu” .
O motivo de ele ser considerado o primeiro judeu, é pelo fato de D’us ter feito com ele uma aliança e ter pedido para ele fazer o Brit Milá, a circuncisão. A partir dessa hora ele se tornou o nosso primeiro patriarca, o primeiro Judeu da História.
A tenda de Avraham
Avraham tinha uma tenda enorme no deserto, bem maior do que uma tenda de circo de hoje em dia.
Por ela ser tão grande, ele fez uma porta de entrada em cada um dos seus lados, para que as pessoas não precisassem “dar a volta no quarteirão” para encontrar a porta. Ele recebia nela todo dia muitas e muitas pessoas.
Avraham dava para essas pessoas uma “Tzedaká” (uma doação) material, ou seja, comida e bebida do bom e do melhor.
Ele também dava para eles uma Tzedaká espiritual. Ou seja, ensinava essas pessoas a deixarem a idolatria e rezarem somente para D’us.
Os Três Anjos
Nossa Parashá nos conta que três dias depois de Avraham Avinu ter feito o Brit Milá, a circuncisão, ele estava muito fraco.
Hashem D’us fez aquele dia ficar um dia muito quente para que ninguém viesse para a tenda de Avraham e ele pudesse descansar um pouquinho.
Mas no lugar de ficar deitado descansando, ele se esforçou e sentou na porta da tenda olhando para todos os lados procurando pessoas para convidar.
Ele ficou muito preocupado pelo fato de ninguém estar na região para que ele pudesse convidar para a sua tenda e fazer para essas pessoas uma bondade material, dando para elas comida e bebida, e também uma bondade espiritual, ensinando elas a agradecer à D’us pelo que receberam.
Para consolar Avraham, D’us enviou para ele três hóspedes.
O Zoar nos conta que esse três hóspedes apareceram em forma de três árabes, mas na verdade eles eram os Anjos Mihael, Gravriel e Refael, que entrando na dimensão do nosso mundo criaram para si próprios corpos de pessoas desse mundo.
Os Anjos
Os Anjos são criaturas espirituais que estão continuamente ligados à D’us. O lugar onde eles se encontram é nos mundos de Briá, Yetzirá e na dimensão espiritual do mundo de Assiá.
Anjos e Anjas
Existem Anjos e Anjas, tanto do lado puro quanto do lado impuro, mas as interações reveladas que aconteceram entre nós e os Anjos do lado puro, geralmente foram com os Anjos e não com as Anjas.
Por outro lado, o Zohar nos conta que Adam (Adão), o primeiro homem, depois de ter acusado Havá (Eva) de ter causado a desgraça dele, se separou de Havá por 130 anos, e durante todo esse tempo teve relações conjugais com duas anjas do lado impuro que se materializavam para ter essas relações com ele.
Uma dessas anjas do lado impuro é chamada de “Li” (não falamos o nome inteiro dela para não atrair a coisa ruim). Ela é a “esposa”, ou seja, o aspecto feminino, do anjo da morte.
Adam também teve relações conjugais com outra anja do lado impuro que era chamada de “Na” (também nesse caso não falamos o nome inteiro dela para não atrair a coisa ruim). O Zoar nos conta que “Na” é a “mãe” dos demônios.
O que é um Anjo?
A tradução da palavra Mala’h, traduzida para o português como anjo, na verdade significa mensageiro. Os Anjos são chamados de mensageiros porque o trabalho deles inclui também trazer a fartura e abundância Divina para os mundos e também realizar diferentes missões.
As criaturas Divinas do mundo de Atzilut e dos mundos acima do mundo de Atzilut, não sentem a própria existência, sendo que esses mundos estão tão unidos à D’us a ponto de não poderem ser chamados de mundos.
O exemplo para isso é o brilho do Sol antes de se separar do Sol e chegar à Terra. Mesmo ele estando existindo lá no Sol da mesma maneira que ele vai existir aqui na Terra, lá no Sol ele não tem como ser chamado de brilho porque lá ele ainda é o próprio Sol.
As criaturas do mundo de Atzilut são chamados de Neetzalim, e lá é o Paraíso dos grandes Tzadikim que o nível espiritual deles é chamado de “Merkavá”, “A Carruagem Divina”.
Esse exemplo nos indica que eles são como uma carruagem em relação ao seu condutor. No nosso mundo eles sempre representaram a vontade Divina e não a própria vontade, e por isso chegaram à esse nível de Paraíso tão elevado que é o mundo de Atzilut.
Eles receberam o título de “Merkavá” porque eles chegaram a um nível de união com D’us que é comparado a uma carruagem em relação à quem está dirigindo ela. Ou seja, a única vontade deles é a vontade Divina.
Nesse nível estão nossos patriarcas Avraham, Itzhak e Yaakov, e também nossas matriarcas, Sarah, Rifka, Rahel e Leah. Lá também se encontram Moshe Rabeinu e os Tzadikim que chegaram a esse nível tão elevado. Rabi Shimon bar Yo’hái nos contou no Zoar que somente um ou dois Tzadikim (pessoas altamente elevadas) em cada geração conseguem chegar à esse nível, de tão elevado que ele é.
No caso da geração do nosso patriarca Yaakov foram três. Yaakov e suas esposas, Rahel e Leá.
A origem dos Anjos
Nos mundos de Briá, Yetzirá e Assiá, em contraste ao mundo de Atzilut, já existe uma separação entre D’us e a criação.
As criaturas desses mundos já tem opinião própria, mesmo estando totalmente submissas à D’us.
Por isso, mesmo não tendo o “livre arbítrio”, eles são passíveis de fazerem um erro de avaliação, e por esse motivo Moshe Rabeinu não aceitou que um Anjo dirigisse o nosso povo no deserto no lugar de D’us.
São nesses mundos de Briá, Yetzirá e Assiá que existem os Anjos, e não acima deles.
Os Anjos foram criados a partir da queda das “luzes” na “quebra dos receptáculos” que foi um fenômeno espiritual que aconteceu no mundo chamado de “Olam a Tohu” que se encontra acima de Atzilut.
Essas “luzes caídas” receberam uma característica de “partes separadas”, e mesmo estando a “raiz” delas ainda ligada ao mundo do “Tohu”, por causa da descida que tiveram, as criaturas originárias delas sentem sua própria existência, mesmo estando totalmente submissas à D’us devido a grandeza da revelação Divina que acontece nesses mundos.
A “Merkavá”, a “Carruagem Divina”
Os Anjos são divididos em categorias chamadas de “acampamentos”.
Os profetas Yeshaiahu (Isaías) e Yehezkel (Ezequiel) receberam uma profecia metafórica onde eles descrevem a “Merkavá“, a “Carruagem Divina”. Essa” Merkavá” não tem nada a ver com o “nível Merkavá” que foi o nível espiritual que atingiram nossas matriarcas e nossos patriarcas, mas se trata de outro conceito com o mesmo nome.
O profeta Yeshaiahu chegou ao nível de “mundo da Briá”, e a “Merkavá”, “Carruagem Divina” que ele descreve, é a origem dos Anjos do mundo de Briá que são criados lá a partir das “luzes caídas” do mundo do Tou.
A “face do leão” da Merkavá
A “face do leão” da Mercavá, da “carruagem Divina” é a origem dos Anjos ligados à Sefirá chamada de Hessed (bondade).
Eles têm como raiz a quebra do receptáculo da Sefirá chamada de Hessed do mundo de Tou.
Sendo que eles são originários da Hessed, o trabalho Divino deles é sempre na categoria de amor.
A “face do boi” da Merkavá
A “face do boi” da “carruagem Divina” é a origem dos Anjos ligados à Sefirá chamada de Guevurá (severidade, dureza)
Eles tem como raíz a quebra dos receptáculos da Sefirá chamada de Guevura do mundo de Tou.
Sendo que eles são originários da Guevurá, o trabalho Divino deles é sempre na categoria de temor, ou seja, reverência.
O Rambam enumera dez categorias de anjos, mas a Hassidut explica que elas são ramificações de três categorias principais que são:
Os “Serafim”
Os “Serafim”, traduzido como “Anjos incandescentes”, são os Anjos do mundo de Briá.
A palavra “Serafim” é o plural da palavra “Saraf” que quer dizer “incandescente”.
Os Serafim são os Anjos do mundo da Briá. O trabalho Divino dos Serafim consiste na compreensão intelectual de D’us que por meio dela eles chegam ao nível de entusiasmo “incandescente” no trabalho Divino, e por isso são chamados de Serafim. Ou seja, Anjos “incandescentes”.
Os Serafim são uma criação por si só e de estrutura completa de dez Sefirot, tendo como primeira raiz o “Kav” que é o começo do “Seder a Ishtalshelut, “a ordem de desencadeamento” que dá origem aos mundos espirituais.
Foi para esses Anjos que D’us falou “vamos fazer o homem a nossa imagem e semelhança”. Essa “imagem e semelhança” são as Dez Sefirót lá em cima e não tem nenhuma ligação à imagem e semelhança material, sendo que o espiritual e o material são duas dimensões totalmente opostas uma da outra.
Araíz do nosso corpo material é o”grande Tzimtzum” que é a fonte dos receptáculos enquanto que a raíz da nossa Alma é o “Kav” que é a fonte das “Luzes”. A partir do primeiro Tzimtzum começa um paralelismo entre luzes e receptáculos. O nosso corpo material é o “receptáculo” da nossa Alma que é a “Luz”, e ela, nossa Alma, está ligada às Dez Sefirót.
Os Anjos Mihael, Refael e Gavriel que vieram “visitar” nosso patriarca Avraham eram Serafim, ou seja, Anjos do primeiro escalão.
Hayot a Kodesh
Os Anjos chamados de “Hayot a Kodesh”, traduzido como “animais santos”, são os Anjos do mundo de Yetzirá.
O trabalho Divino dos Hayot a Kodesh acontece por meio do entusiasmo que eles tem por própria natureza, e não pelo entendimento intelectual, e por isso são chamados de Hayot “animais”, sendo que o animal age por instinto e não por compreensão.
Ofanim
Ofanim é o plural de Ofan, que quer dizer roda e também eixo. Esse é o nome dos anjos que estão na dimensão espiritual do nosso mundo material, no lado espiritual do nosso mundo, o mundo de Assiá.
O trabalho Divino deles consiste apenas em reconhecimento, contemplação e submissão à distância, e por isso são chamados de “Ofanim” que são as rodas e os eixos da Merkavá, da “carruagem Divina”.
Sendo que eles são os anjos do mundo de Assiá, eles fazem o último “repasse” da abundância da décima das Dez Sefirót que é chamada de Mal’hut, do mundo superior para o mundo material.
Cada etapa desse “repasse” consiste na transformação dessa abundância da dimensão na qual ela é recebida para a dimensão para a qual ela é repassada.
Ou seja, a Sefirá chamada de Mal’hut recebe a fartura e a abundância do conjunto de seis Sefirót chamado de Zeir Anpin (a pequena face) e rebaixa essa abundância para a dimensão espiritual do mundo material.
Esses Anjos do mundo de Assiá vão personalizar essa abundância repassando ela individualmente e de forma material para cada criatura, de acordo com o que foi decretado para ela lá em cima.
Por isso, esses anjos dizem “Bendita é a glória de D’us desde o seu lugar”, que significa a continuação da abundância Divina para o mundo de baixo que é o nosso mundo, o lado material do mundo de Assiá.
Rabino Gloiber
Sempre correndo
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